A Apple tem uma longa história de bons resultados na área das tecnologias de apoio para pessoas com deficiência.
Mais recentemente, e depois de ter trabalhado durante muitos anos com a empresa ALVA BV, usando o leitor de ecrã OutSpoken, resolveu introduzir no seu próprio sistema operativo um programa de ampliação de caracteres - Zoom - e um programa de leitura de ecrã - VoiceOver que visa dar resposta às necessidades de acesso das pessoas com deficiência da visão. É a isto que se chama habitualmente de "Design Universal" ou "Universal Access".
A ideia do "Universal Access", no caso de pessoas com deficiência da visão e para o caso dos sistemas operativos dos computadores, é EXCELENTE! Resta saber até onde é que a Apple pretende ir, pois é uma opção que a vai fazer especializar-se bastante e investir consideravelmente, se quiser bons resultados e resolver, de facto, as necessidades dos utilizadores cegos e com baixa visão. Diriamos nós: o que é isso para o patrão da Apple, Steve Jobs!?
Bom, pode ser que não seja nada, mas para já, considero que aquilo que vem no Mac OS X Tiger, principalmente para pessoas cegas, não é sequer razoável!
A usabilidade do VoiceOver é difícil, com montes de teclas e de difícil execução (4 teclas em simultâneo, em algumas funções), e os resultados de navegação não são muito consistentes. Mas se o resultado é insuficiente para pessoas cegas, o Zoom surpreende. Diria, não me entusiasmando demasiado e comparando com outras aplicações do género para Windows, bom!
Foi, aliás, o facto do sistema operativo Mac OS X ter incorporado uma aplicação de ampliação de caracteres que me fez comprar um Mac. Para quem, como eu, faz uso intenso da ampliação, o resultado diário é substancialmente mais compensador do que aquilo que conseguia com o Lunar da Dolphin Systems, na sua versão para Windows XP. Sem ampliação, não consigo executar quaisquer tarefas no computador. No Windows, para além de ter que comprar à parte o software de ampliação, em média, tinha que desligar o computador 2 a 3 vezes por dia, por causa dos erros fatais derivados de usar um software "estranho" ao sistema operativo. Havia mesmo tarefas que evitava ou fazia com medo do sistema vir abaixo. Restava-me a hipótese do botão "reset", que invariavelmente me levava horas de trabalho em curso.
Mas será isto diferente no Mac OS X? Será mais fácil navegar nas diversas aplicaçoes com o OS X?
Com a criação deste Blog viso partilhar com todos os deficientes visuais, e não só, a minha experiência com o sistema, dando conta das funcionalidades e desempenho do Zoom e do VoiceOver.
Não encontrei na Internet manuais, tutoriais ou simples listas de comandos, escritos em Português, sobre como trabalhar com estas ferramentas. Tenho por objectivo: conceber/traduzir esses instrumentos que nos levem a usar melhor o computador.
Duas breves impressões, talvez úteis para quem pondera comprar Mac: (1) o Zoom tem respondido às minhas necessidades de grande amblíope (visão tubular de apenas um olho de 1/10); (2) o VoiceOver ainda não responde às necessidades das pessoas cegas. Estas últimas, dificilmente conseguirão executar as tarefas básicas de que precisam (depois explicarei em detalhe).
Para já, ficam algumas dificuldades com que me deparo no VoiceOver:
- não localizei um único sintetizador de fala em língua portuguesa para instalar no Mac OS X Tiger;
- no processador de texto Word X for Mac, release 1 o VoiceOver não lê. Suspeito que isto se aplica ao pacote Office e provavelmente a todas as aplicações não nativas;
- no navegador Web FireFox 1.0 for Mac, o VoiceOver não lê. Esta é mesmo a prova do ponto anterior, que inviabilizam o uso do VoiceOver em aplicações não-apple. Vamos ver se na versão que está prestes a sair, que inclusivamente recebeu de herança por parte da IBM 5000 linhas de código para se tornar acessível, se a situação melhora. Caso contrário, provavelmente, vamos ter que começar a perguntar à Apple quem verifica se a aplicação está conforme com o Mac OS e se as directrizes de acessibilidade fazem parte desse processo de conformidade?;
- na aplicação nativa AddressBook é muito difícil ler o cartão de visita (depois explicarei melhor);
- não encontrei nenhum leitor de ecrã para linha braille que funcione em Mac OS X.
Fico-me hoje por aqui. Espero que a Apple vá melhorando as aplicações, pois bem precisam, e bem precisamos delas a funcionar!