sábado, setembro 12, 2009

IPhone 3GS passou a suportar uma das mais trabalhosas regras de acessiblidade

Nas Directrizes de Acessibilidade para o Conteúdo da Web (WCAG 1.0) existem dois pontos relacionados com a identificação do idioma dos conteúdos. São eles:

4.1 - Identifique claramente quaisquer alterações de idioma no texto de um documento, incluindo os equivalentes textuais (caso das legendas das imagens e de outros elementos). (ponto de verificação de prioridade 1)

e

4.3 - Identifique o idioma principal do documento. (ponto de verificação de prioridade 3

Estes dois pontos de verificação das WCAG 1.0 têm sido, na generalidade, e ao longo da história curta das directrizes de acessibilidade, mal tratados. Mal tratados pelos editores de conteúdos Web mas também pelos produtores de tecnologias de apoio - ajudas técnicas - para pessoas com deficiência.

Quanto à edição Web é raro encontrar conteúdos em que se faça a identificação do idioma principal da página, por sinal um ponto muito fácil, e nada trabalhoso, de implemntar. Basta que a linha que dá início à página HTML use o atributo lang, ou seja, algo como:

<html lang="pt">

Já o ponto de verificação 4.1 é altamente trabalhoso. Marcar todas as palavras e expressões que se encontram em idioma diferente do da página obriga a percorrer, manualmente, todo o documento, e marcar cada um deles. Quando me dizem que a acessibilidade não custa dinheiro e é tão fácil como fazê-lo de forma não acessível, vem-me sempre à memória este ponto. É, no meu entender, de todos os 65 pontos de verificação das WCAG 1.0, o maior consumidor de recursos. E é, ainda por cima, de prioridade 1,

Mas, se do lado da edição de conteúdos ninguém respeita estes dois pontos, principalmente o 4.1, do lado da produção de agentes de utilizador, nomeadamente de tecnologias de apoio, a cohabitação com estas regras não tem sido fácil. Os leitores de ecrã têm liderado o tema e vindo a introduzí-lo progressivamente. No entanto, mesmo estes, ainda hoje o fazem de forma rudimentar no caso do braille e mesmo no caso da síntese de fala. Para a síntese de fala, não existe, para português europeu, um multi-sintetizador, barato, que desempenhe a tarefa rapidamente e eficazmente. Mesmo quem tenha hipótese de dotar o seu PC com um multi-sintetizador de qualidade, vai reparar que a máquina tem dificuldade em gerir tantos sintetizadores em simultâneo.

Com a actualização do sistema operativo para o iPhone 3GS, que ocorreu no início desta semana, a Apple introduziu a leitura de ecrã com base em multi-sintetizadores. E na leitura de páginas Web, o VoiceOver - leitor de ecrã que acompanha o equipamento de origem, passou a suportar os dois pontos de verificação das WCAG 1.0 citados neste post. Ou seja, quando passo de uma página portuguesa para uma francesa, o VoiceOver passa, "automaticamente" a ler em Francês. Quando regresso à página Portuguesa, passa a ler em português e mais... Quando leio uma página que contém expressões em idiomas diferentes do principal dessa página, o VoiceOver passa, automaticamente, de um sintetizador para o outro. Podem experimentar na leitura das páginas do Programa ACESSO da UMIC ou na página da Fundación SIDAR. Uma maravilha! O desempenho do VoiceOver é notável, a passagem é natural e imediata. E parece-me que tenho não um, nem dois, mas várias dezenas de sintetizadores a trabalhar em simultâneo. Mas só funciona quando quem editou os conteúdos cumpre as 2 regras de acessibilidade.

Notei, no entanto, aquilo que me parece um bug. Parece-me porque ainda estou a investigar junto do W3C como deve ser interpretado o código de idioma 'pt'. Como português europeu (pt-PT) ou português do Brasil (pt-BR)? A Apple interpreta-o como português do Brasil (pt = pt-BR) e coloca a Márcia a ler o texto em vez da nossa Maria. Oh, meus amigos! Isto não é a Selecção Nacional! :-)

O iPhone revela-se, hoje, um dispositivo altamente potente na validação manual da acessibilidade dos conteúdos Web. E para quem tem um, para o usar como validador não precisa de comprar nada adicional.